[feel_____:THAT]

20051125

Buy Nothing Day



O dia sem compras teve lugar hoje na maior parte dos países envolvidos nesta campanha internacional. Em Portugal as actividades desta campanha estão programadas sobretudo para amanhã, sábado.

A globalização à escala mundial transformou o cidadão do primeiro mundo em cidadão-consumidor: o consumidor com direitos que na actualidade são sujeitos a maior debate e mobilização do que os direitos da cidadania. E não será por acaso, uma vez que neste contexto o exercíco do consumo é politizado, e as empresas, com destaque evidente para as multinacionais, detêm poder político real. O consumo desenvolve assim um paralelismo com o voto democrático - o consumidor expressa-se na sociedade de consumo tal como o cidadão na sociedade civil - e as suas escolhas reflectem os seus valores.

Movimentos como este são o reflexo do reconhecimento desta realidade pela parte da sociedade civil, que é afinal a sociedade de consumo. Mas é também o reconhecimento da dificuldade de equilíbrio entre o consumo massificado e a sustentabilidade a longo prazo do modo de vida das populações nos países desenvolvidos, bem como o questionar da própria existência concreta de recursos que permitam a sua perpetuação num horizonte temporal indefinido. São também levantadas questões morais: como conciliar o modo de vida das populações privilegiadas dos países desenvolvidos com populações com percentagens importantes de indivíduos que sobrevivem com menos de 1$ por dia?

Os destinos destas questões escapam quase em absoluto ao controlo quer das populações do chamado terceiro mundo, quer das populações de cidadãos-consumidores do primeiro mundo.

Será então o dia do não-consumo um voto em branco? Será talvez um momento para relembrar que no mundo de hoje o cidadão se depara, à escala do globo, com um sério défice democrático. O problema do défice democrático já é actualmente muito discutido no contexto da União Europeia, cujas estruturas democráticas convencionais muitas vezes escapam à lógica da representatividade. Mas a questão ganha outra dimensão no mundo gobalizado da sociedade de consumo. Também a esta escala são tomadas decisões sem que os indivíduos cujos interesses são afectados pelas mesmas tenham, literalmente, voto na matéria. O consumo-politizado é talvez o único atalho realista para uma participação democrática na sociedade de consumo global.

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