[feel_____:THAT]

20060430

Drawing Restraint 9

Drawing Restraint 9 - film still - by Matthew Barney [2005].
Runtime: 135 min; Country: USA / Japan; Soundtrack by Bjork.

Bjork [de quem também sou fã] a tentar explicar o filme de Barney em que participa como atriz, e de cuja banda sonora é autora, é reveladora:

Trying to even start to explain the film is kind of challenging, but with my little alcoholpickled brain, it's really tough. I guess that's the point with the way Matthew sets it up, because there is no story. You just have to sit there and enjoy it, a bit like nature. The film has a narrative, but a really abstract one. It's not your average Hollywood movie, let's put it that way.

O filme de facto consegue ser cativante apesar da narrativa abstracta, e prender o interesse do espectador apesar de estar longe de ser hollywoodesco. A descrição do filme também é engraçada de ler, particularmente tendo em conta que está longe da que eu faria:

The film concerns the theme of self-imposed limitation and continues Matthew Barney's interest in religious rite, this time focusing on Shinto.

Depois de ver alguns filmes da série Cremaster [de que falei aqui e aqui], estava curiosa para ver o último trabalho de Barney. A primeira impressão foi que a preocupação imagética extrema da série cremaster tinha dado lugar a um maior ênfase na narrativa simbólico-abstracta. O que do meu ponto de vista é uma pena, porque a narrativa em Barney é um código e não um veículo de comunicação - e muito menos uma fonte de entretenimento. De qualquer maneira é coerente na inspiração nipónica para a estética dominante que mantém um nível de qualidade importante.

Em conversa com os amigos com quem fui ver este filme concordámos que o filme era uma campanha encapuçada contra a caça das baleias no Japão - cuja caça em grande escala é justificada politicamente com fins pseudo-científicos de investigação. Pelos vistos estávamos todos enganados porque nada na descrição oficial do filme menciona tal coisa, o que me parece lamentável - uma oportunidade de veicular uma mensagem política perde-se em considerações existencialistas desligadas da realidade...

O filme passa-se sobretudo a bordo de um baleeiro em alto mar. Os instrumentos de caça à baleia e de processamento da sua carne são usados nomeadamente para cortar a vaselina que se solidifica ao longo do filme dentro de um contentor em forma do "campo" [the field - a forma simbólica de Barney que aparentemente remete para a limitação auto-imposta]. O clímax é um abraço canibal entre o casal alternativo Bjork-Barney, envergando trajes arcaicos tradicionais japoneses de casamento, em que estes se cortam mutuamente os pés e as coxas [nesta altura comecei a achar que a sua associação pessoal e artística era um perigo para a humanidade] e retiram a pele dos membros inferiores um do outro como numa cerimónia de corte da baleia.

Afinal tem a ver com a auto-transcendência. A mim transcende-me mesmo.

0 Feelings:

Post a Comment

<< Home