[feel_____:THAT]

20060630

Lisboetas lisboetas...



Foi com atraso que fui ver o documentário de Sérgio Tréfaut, o melhor filme português do Indie Lisboa de 2004. Tinha expectativas elevadas em relação aos Lisboetas, que me foi recomendado por pessoas cuja opinião respeito. Foi uma desilusão um pouco amarga: lento e superficial, toca apenas ao de leve as histórias de vida dos lisboetas imigrantes que retrata enquanto simultaneamente desperdiça a oportunidade de o fazer mais profundamente com longos planos que oscilam entre o poético e o corte desleixado das filmagens originais - fica a ideia irritante de que não se quis desperdiçar o que foi filmado e também não se teve a persitência para explorar todas as histórias que ficaram por contar e a verdadeira dimensão dos problemas e esperanças destes imigrantes, a sua relação com a cidade e os seus outros habitantes e o seu impacto em Lisboa e vice-versa. Muitas questões por responder a terminar num longo plano de um parto, talvez um esforço no sentido de um fecho coerente daquilo que é na realidade apenas um princípio de uma busca - é isto que encontramos nos Lisboetas.

As críticas não retiram contudo ao filme o mérito de ser o primeiro a abordar um tema que pedia encarecidamente ser explorado e trazido à nossa consciência colectiva: a vida dos imigrantes em Portugal e a perversão social das nossas leis sobre a matéria, as quais empurram para as margens da sociedade os indivíduos de cuja mão de obra, por contradição, o país está dependente. Mas também o despontar de um país com diversidade cultural, os responsáveis da qual permanecem para a maioria dos portugueses, invisíveis. A visibilidade dos nossos novos imigrantes (uns mais do que outros, visto que a imigração das ex-colónias, que é menos abordada no documentário, já não é um fenómeno recente) é positiva em todos os sentidos, mas em particular na medida em que desmistifica "o outro", humanizando-o e tornando evidente a injustiça do seu tratamento diferenciado - o qual o exclui da cidadania e dos benefícios do Estado Social que os seus impostos também pagam (e dos quais a nossa baixa natalidade nos torna também dependentes).

Apesar de tudo, a ver.



Foto Quem és tu? by Luísa Cortesão [2006].

0 Feelings:

Post a Comment

<< Home