[feel_____:THAT]

20061122

3 | Fez







Fez é uma das quatro capitais imperiais de Marrocos e a primeira que conhecemos nesta viagem. Esperávamos grandeza: já sabíamos que se tratava da antiga capital, que ali se encontrava a maior medina do país, grandes Palácios Imperiais e Mesquitas.

Começando pelo fim, não conseguimos entrar em nenhuma Mesquita - a política nacional é que elas estão fechadas a não-muçulmanos e ponto final. A minha desilusão por não poder conhecer esses espaços em Marrocos foi moderada, especialmente porque as minhas visitas a mesquitas noutros locais foram sempre sinónimo de algum desconforto - com o lenço na cabeça e a transformação do espaço de culto em espaço museu ambos forçados e mal amanhados... Quanto aos Palácios Imperiais a política era mais igualitária: fechados a todas as visitas. Ainda assim pudémos vislumbrar de passagem, com curiosidade, os portões e as grandes muralhas - o resto ficou imaginado.

A maior medina de Marrocos confirmou-se impressionante - conhecêmo-la com a ajuda de um guia, como aliás muitos nacionais também fazem. Depois de uma primeira experiência difícil de igualar com o nosso guia Ali em Tanger, o Abdul foi uma desilusão fácil: falou-nos mais das suas férias na Europa, na Suiça e na Finlândia, do que da sua cidade. Tentou fazer-nos um tour das lojas mas as férias pós-ramadão reflectiram-se numa visão particular da cidade e das suas ruas: muitas lojas e restaurantes fechados. Este é um período em que muitos marroquinos tiram entre dois dias e uma semana de férias, juntando-se muitas vezes às suas famílias que vivem nas zonas rurais.

Assim, conhecemos a fábrica de cerâmica (uma visão reminiscente do Iraque, que só me conseguiu convencer do facto de ser uma fábrica depois de ver de perto os fornos e a cerâmica produzida no típico barro cinza de Fez), e o bairro dos artesãos dos curtumes (nas fotos), onde ainda se utilizam métodos medievais, sem ninguém. A vantagem no caso dos curtumes foi que o esperado cheiro intenso a fezes de pombo (utilizadas como matéria-prima de custo zero para curtir as peles) estava algo atenuado, pelo menos se tentando comparar com as descrições apocalípticas com que nos cruzámos. Apesar de tudo mantivémo-nos agarradas ao nosso raminho de hortelã, qual amuleto contra o mau-cheiro...

Contudo, e apesar deste interregno comercial pós-ramadão, esta foi provavelmente a experiência mais fortemente mercantilizada numa das nossas 6 cidades. Aqui, estão habituados a receber muitos turistas e a tirar o melhor proveito possível disso.

Sem o contágio de qualquer encanto avassalador, mas também sem desencanto, seguimos a estrada para Méknes e daí para Rabat, duas das restantes três cidades imperiais do país.


Nas fotografias: Vista de parte do bairro dos artesãos dos curtumes e tinas de tratamento de peles; Vista de uma rua na Medina de Fez.

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